segunda-feira, 27 de abril de 2009

Pelo Max, surf music

SURF CITY, HERE WE GO...
SURFANDO NA ARQUEOLOGIA FONOGRÁFICA


Uma das coisas mais interessantes que aconteceram na era do Cd, foi a quantidade de coletâneas a que tivemos acesso. Algumas boas, outras ótimas (raras, na maior parte das vezes) e outras tantas mais, pura picaretagem caça-níqueis.
Nesse ensejo, a cultura do box-set gfanhou certa notoriedade, pois tratam-se de caixas - geralmente temáticas - com vários cds e que vieram muito bem a calhar para aqueles que estavam afim de conhecer determinadas sonoridades, estilos ou artístas por fases, sem que para isso fosse preciso juntar obras completas, o que aliás, podia muito bem esperar.
Como estamos em pleno verão, vale darmos um destaque especial para uma dessas coletâneas em forma de box-set: a "Cowabunga! The Surf Box" (Rhino, 1996 ); a melhor compilação do que se produziu em matéria de surf music nos EUA entre os anos de 1961 e 1967, nos 3 primeiros discos, e um 4° disco com o estilo “turbinado” pelo punk/pós-punk entre 1976 e 1996.

UM BRINDE AO VERÃO

Aos desavisados, surf-music não quer dizer necessariamente "música de surfistas, tocada por surfistas e que só pode ser curtida onde houver praia", mas sim, uma sonoridade feita sob medida para qualquer verão (e olha que em Cuiabá, o que não falta é verão!).
Seguramente, a surf-music pode ser considerada como o primeiro grande "boom" do rock instrumental, haja vista que o rock instrumental, propriamente, já existia desde quando rock era rock, mas com a diferença de o instrumento principal ser o sax, sendo que com o surgimento da surf-music, o sax acabou cedendo o seu lugar à guitarra elétrica e ao tímbre “aquático” do reverb.

Dick Dale

Deflagrada por Dick Dale em 1961, com sua gravação de "Let's go Trippin'", a nova sonoridade serviu de influência para muita gente de peso, como por exemplo, toda uma geração de bandas instrumentais surgidas pela California e pelo mundo, bem como o lenderário Jimmy Hendrix. Aliás, Dick Dale foi o primeiro grande "endorser" (algo entre “garoto propaganda” e “piloto de testes”) da Fender, tanto que nas décadas de 60 e 70 ajudou a desenvolver guitarras e amplificadores para, a princípio, suportarem sua pegada cavalar.

SENTIDO UNIVERSAL
os ingleses The Shadows:
influência de 9 entre 10 bandas de surf music

De encontro ao que reza a grande mídia de massa, desde seu início, o estilo mostrou que veio para ficar, já que o seu legado tem se perpetuado através dos anos, não por meio de músicos revivalistas, mas por artistas das mais diversas correntes, sendo que a surf music também pode ser considerada uma das primeiras grandes manifestações daquilo que um dia haveríamos de chamar de "world music" ou de "fusion" em sua forma mais pura, milênios luz às desnecessárias prolixidades técnicas que hoje infestam e deturpam a música instrumental moderna.
Anos antes d'os hippies adotarem a cítara indiana, o pessoal da surf-music já fazia suas experimentações com elementos de música árabe, judaica, flamenca, eslava, oriental etc. Isso, sem falar na inconteste influência do jazz e da música erudita, nítida em muitos discos "temáticos" dos Ventures e do japones Takeshi Terauchi, com inúmeras releituras para clássicos de sempre.
Graças à surf-music, um novo universo de influências se abriu no rock'n'roll. Por exemplo: os Beach Boys que, graças à mente visionária de Brian Wilson (um costumaz frequntador desta coluna), transcenderam as fronteiras de uma sonoridade que até então tinha seus limites. Gravaram inúmeros clássicos que conjugavam harmonias vocais de "doowop" à pureza das guitarras Fender enxarcadas no reverb de amplificadores valvulados. Dentre os Beach Boys, apenas o baterista Dennis Wilson pegava onda. Eram ótimos músicos, sim. Mas apenas ao vivo! No estúdio, se encarregavam somente de fazer os vocais, pois os intrumentais eram (quase sempre) brilhantemente executados pelos melhores músicos de estúdio da época, como Glenn Campbel (guitarra), Carol Kaye (baixo) e Hal Blaine (bateria). Aliás, tais músicos se fazem presentes em quase todas as faixas dos 3 primeiros cedês do supracitado box-set “Cowabunga”!
Embora a caixa tenha sido idealizada e compilada ao longo de muitos anos, pelo pesquisador Phil Dirt, o projeto só veio mesmo à tona graças ao sucesso do filme Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, em 1994, cuja trilha sonora consistia, em sua maior parte, de petardos da surf-music e do rock intrumental (Dick Dale, Lively Ones, Link Wray, The Revels, The Tornados etc).
Além de Dick Dale, a caixa também conta com muita coisa de Ventures (o primeiro grande nome de Seattle!), Bell-Airs, Beach Boys, Lively Ones, Trashmen, e de mais uma leva de pesos pesados do estilo.

BRASIL
Jordans, pioneiros da surf music no Brasil

O estilo apareceu no Brasil de maneira discreta, ainda no tempos da jovem-guarda.
Era comum em toda cidade haver algum “conjunto” que tocasse músicas dos Ventures, dos Shadows ou até mesmo “O Milionário” para animar bailinhos e matinés.
Apesar de jamais terem adotado o “rótulo” surf-music, inúmeras bandas gravaram LPs e compactos no estilo. Exemplos não faltam: The Jordans, The Jet Blacks, Os Incríveis, The Angels, The Pops, Renato & Seus Blue Caps, The Fevers etc. Inclusive os cuiabanos do Jacildo & Seus Rapazes gravaram “Tarzan, Rei dos Macacos” nos idos de 1966.
Reza uma lenda que até mesmo o próprio rei Roberto Carlos tinha por exigência básica aos músicos que fossem acompanhá-lo, que estes ao menos conhecessem The Ventures e The Shadows. O resultado pode ser ouvido nos discos "É Proibido Fumar" (1964), "RC Canta Para A Juventude" (1965) e "Eu Te Darei o Céu" (1966).

BELO HORIZONTE

Muito tempo se passou e o Brasil se tornou um polo importante na produção de surf-music, pois desde a metade dos anos 90, inúmeras bandas têm surgido por toda parte e resgatado em seus repertórios muitas dessas pérolas que amargaram anos de solidão em meio aos sebos das grandes cidades.
Belo Horizonte, apesar de não ter mar, com orgulho vem carregando nos últimos 12 anos o status de ser a capital brasileira da surf music, título carinhosamente dado por Dick Dale quando de suas apresentações por lá, em meados de 1997. Tanto é que, em seu disco de ’98, Dale corroborou sua homenagem ao intitular uma de suas faixas com o nome de “Belo Horizonte”.
Tão forte é seu status que anualmente a cidade cedia o “Primeiro Campeonato Mineiro de Surfe”, que em 2009 vai para sua 9ª edição, reunindo bandas de toda a América Latina e do mundo também.

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Max Merege é o maior surfista sonoro de Brasilia.